Um post sério (para variar)

Natal: uma época de contradições

Todos os dias nesta altura, podemos observar nos noticiários dos canais televisivos, diversas acções de caridade por este país fora. Mas existe a caridade e a publicidade gratuita.

Apraz-me ver instituições sem fins lucrativos localizadas em bairros sociais, a entregar cabazes com bens de primeira necessidade a famílias necessitadas para que estas também possam desfrutar de uma ceia de Natal, e onde todos os que podem, contribuem seja a nível material ou humano para que isso se torne possível. Além disso, normalmente estas instituições fazem este tipo de serviço durante o ano todo dentro das suas possibilidades, com a ajuda de voluntários.

Agora ao observar na televisão pavilhões com centenas de pessoas necessitadas a terem UM jantar por ano oferecido pela autarquia ou pela junta, interrogo-me sobre o que fazem estes presidentes pelos seus munícipes carenciados durante os restantes 364 dias do ano. Com que direito estes senhores que não são voluntários, pelo contrário até são bem remunerados para o que fazem (ou não fazem), chamam as televisões para estas darem cobertura a um evento onde se calhar pessoas sem-abrigo, ou com reformas de 200 euros, até agradeciam não serem filmadas por vergonha. Afinal quem é que gosta de mendigar? Se calhar já basta para elas o facto de se sujeitarem a ir a estes jantares por necessidade, por não terem hipóteses financeiras de os realizarem em casa (caso a tenham), e com os seus familiares (caso os tenham). Estes senhores deviam ter vergonha na cara, acções destas deveriam ser contínuas durante o ano, e sem publicidade. Sim, porque as televisões não devem ter repórteres em cada terra a lerem cartazes de propaganda, ou os jornais locais. Mas quem nasce em berço de ouro dificilmente acabará com reformas miseráveis, onde terá de optar por comida em detrimento de medicamentos muitas vezes essenciais para manter uma qualidade de vida razoável, visto o dinheiro não dar para tudo.

O Natal cada vez é menos o menino Jesus, e tudo o que ele representa, e cada vez mais o Pai Natal. Se calhar as televisões deveriam tentar fazer reportagens, num qualquer Toys r us, e observarem o que pais abastados gastam nesta altura em brinquedos para os filhos, e depois seguirem estas mesmas pessoas nas compras em hiper-mercados, em tempo de campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome, e verem o quanto gastam e o que deixam nos sacos (se deixarem).

Felizmente ainda existem pessoas na sociedade com a noção de partilha, e que se preocupam com aqueles para quem a vida foi madrasta. São pessoas que através de pequenos gestos e anonimamente, dão o pouco que podem em prol dos outros. Saliento aqui as pessoas que trocam a sua ceia de Natal ao lado da família, para estarem numa qualquer rua a distribuir uma sopinha quente a pessoas que não têm a mesma sorte. E são voluntários de instituições não de um dia específico do ano, mas quando conseguem tirar um tempinho nas suas vidas quotidianas.

Quanto a mim, esta é uma altura para a família se reunir e confraternizar. Mas felizmente reúno-me várias vezes no ano com a minha família. Não me lembro deles só no Natal, tal como algumas pessoas também não se lembram só dos desafortunados nesta altura. Tenho saudades é das pessoas queridas que se sentavam na minha mesa desde os meus tempos de meninice, e que já partiram ao longo dos anos. Mas essas pessoas nunca serão esquecidas e estarão para sempre no meu coração.