«O BURACÃO» (do jornal «O Médico»)
(alguém foi entrevistado por um jornalista, que disse o seguinte:)
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> «- Há uma grande fraude que se está a passar nas farmácias.
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> - Ai sim? Ora conte lá isso...
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> - O senhor jornalista lembra-se de quando ia aviar remédios à
>
> farmácia e lhe cortavam um bocadinho da embalagem e a colavam na
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> receita, que depois era enviada para o Ministério da Saúde, para
>
> reembolso às farmácias?
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> - Lembro, perfeitamente... Mas isso já não existe, não é verdade?
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> - É... Agora é tudo com código de barras. E é aí que está o
>
> problema... É aí que está a fraude. Deixe-me explicar: como o senhor
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> sabe, há muita gente que não avia toda a receita. Ou porque não tem
>
> dinheiro, ou porque não quer tomar um dos medicamentos que o médico
>
> lhe prescreveu e não lhe diz para deixar de o receitar. Ora, em
>
> algumas farmácias - ao que parece, muitas - o que está a acontecer é
>
> que os medicamentos não aviados são na mesma processados como se o
>
> doente os tivesse levantado. É só passar o código de barras e já está.
>
> O Estado paga.
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>
>
> - Mas o doente não tem que assinar a receita em como levou os
>
> medicamentos? - Perguntei.
>
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> - Tem. Mas assina sempre, quer o levante, quer não. Ou então
>
> não tem comparticipação... Teria que ir ao médico pedir nova
>
> receita...
>
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> - Continue, continue - Convidei
>
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>
> - Esta trafulhice acontece, também, com as substituições. Como
>
> também saberá, os medicamentos que os médicos prescrevem são muitas
>
> vezes substituídos nas farmácias. Normalmente, com a desculpa de que
>
> "não há... Mas temos aqui um igualzinho, e ainda por cima mais
>
> barato". Pois bem: o doente assina a receita em como leva o
>
> medicamento prescrito, e sai porta fora com um equivalente, mais
>
> baratinho. Ora, como não é suposto substituírem-se medicamentos nas
>
> farmácias, pelo menos quando o médico tranca as receitas, o que
>
> acontece é que no processamento da venda, simula-se a saída do
>
> medicamento prescrito. É só passar o código de barras e já está. E o
>
> Estado paga pelo mais caro...
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> Como o leitor certamente compreenderá, não tomei de imediato a
>
> denúncia como boa.
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> Até porque a coisa me parecia simples de mais.
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> Diria mesmo, demasiado simples para que ninguém tivesse
>
> pensado nela. Ninguém do Estado, claro está, que no universo da
>
> vigarice há sempre gente atenta à mais precária das possibilidades.
>
> Telefonei a alguns farmacêuticos amigos a questionar...
>
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>
> - E isso é possível, assim, de forma tão simples, perguntei.
>
>
>
> - É!... Sem funfuns nem gaitinhas. É só passar o código de
>
> barras e já está, responderam-me do outro lado da linha.
>
>
>
> - E ninguém confere? - Insisti.
>
>
>
> - Mas conferir o quê? - Só se forem ter com o doente a
>
> confirmar se ele aviou toda a receita e que medicamentos lhe deram. De
>
> outro modo, não têm como descobrir a marosca. E ó Miguel, no estado a
>
> que as coisas chegaram, com muita malta à rasca por causa das descidas
>
> administrativas dos preços dos medicamentos... Não me admiraria nada
>
> se viessem a descobrir que a fraude era em grande escala...
>
>
>
>
>
> E pronto... Aqui fica a denúncia, tal qual ma passaram...
>
>
>
> Se for verdade... Acho que é desta que o Carmo e a Trindade caem
> mesmo!»
>
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